" Não há meia mentira, tampouco meia verdade e nem meia liberdade, pois não pode ser cortada, quem acha o rumo da aguada, não morre de sede a míngua, e quem fala meia língua, termina dizendo nada!" (Jayme Caetano Braun)

sábado, 29 de janeiro de 2011

O chimarrão !



Hoje vou falar sobre um dos símbolos da nossa cultura, o chimarrão, mate, como quiser chamar ! Porque vamos e venhamos, tiene cosa mejor ?


O chimarrão (mate) é uma bebida típica aqui do sul da América do Sul, um hábito que veio lá das culturas indígenas quíchuas, guaranis e aimarás. Aqui no Brasil ele é consumido no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Acre, Paraná, Santa Catarina, mas principalmente no nosso querido Rio Grande do Sul ! Fora do Brasil é consumido em parte do Chile e da Bolívia, no Paraguai, Uruguay e Argentina (e como esses castilhanos mateiam né ? hehe)
Bueno, essa expressão : mate, vem do castelhano né, mas é usada de forma popular aqui no RS (inclusive eu utilizo), junto com o termo "Chimarrão".
E chimarrão, vem do espanhol cimarrón , que também serve de nome para o gado ou planta que já tinha sido "domado" e volta para o estado natural, selvagem....

Bueno, acho que todos sabem, o chimarrão é composto por erva-mate, cuia, bomba e água quente.
Tem um gosto misto de doce e amargo, mas depende da qualidade da erva, que já pronta para usar consiste em folhas e ramos finos (de 1 mm mais ou menos) secos e triturados, de cor verde. Mas existem diversas variedades, aí a escolha da erva é a gosto do mateador!
A cuia é feita do fruto da cuieira, o porongo, ela pode ser bem simples, ou lavrada de ouro, prata, opaca e outros metais, sua largura é a de uma caneca, e os formatos são variados, mas de forma geral podemos dizer que é basicamente o seio de uma mulher.
A bomba, é um tipo de "canudo", de uns 7 mm de lagura, uns 25 cm de comprimento, normalmente é feita de prata, na ponta inferior uma "peneira" do tamanho de uma moeda, e na superior uma espécie de "piteira", muitas vezes de ouro.
A água não pode estar fervendo, porque queima a erva e modifica o gosto, ela deve esquentar até a água "chiar" na chaleira.

É usado como "bebida comunitária" , apesar de alguns mais viciadinhos tomarem solitos (assim que nem eu nesse momento por exemplo hehe), é muito utilizado quando a família se reúne, e quase obrigatória quando chegam visitas ou hóspedes.
É unânime que tomar chimarrão é um ato amistoso e que agrega os que estão ali na roda. Tem uma interpretação poética de que quando tu passas o chimarrão para o próximo, ele vai ficando melhor, e com isso estás desejando o melhor para a pessoa ao teu lado, e consequentemente ao resto da roda que irá tomar.
Quem preparou o chimarrão, é o primeiro a tomar, e também é o cevador (o que serve a água após cada mate), o chimarrão sempre deve ser tomado até o final, fazendo a "cuia roncar", é considerado falta de educação tomar o mate pela metade. 

Em seguida vão alguns retratos do chimarrão !


                                                                Cuia 


                                                               Bomba


                                                             Erva-mate


                                                        Chimarrão Gaúcho


                                                        Mate Argentino


                                                         Mate Uruguayo


                                                          Mate Chileno

O meu mate é um misto hehe, bomba brasileira, cuia uruguaya, e a erva mate é uma mistura de erva argentina e uruguya... si si, bem forte, pero com uma casquinha de laranja seca, para dar um toquezinho ! Mas cada um em seu gosto, alguns colocam ervas e chás, vendem até composto de erva mate, que já vem junto pedacinhos de casca de laranja e ervas !
A seguir uma payada do mestre Jayme Caetano Braun sobre o amargo !

Amargo


Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vasilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta 
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!
  
Nessa lagoa parada 
Cheia de paus e de espuma 
Vão cruzando uma por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e maracações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!
 
Sangue verde do meu pago 
Quando teu gosto me invade
Eu sinto a necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!
 
Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo meu ser
E um dia quando morrer
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!
 
 
Espero que gostem ! Forte abraço e até mais !

Um comentário:

  1. Adorei querida...e confesso, como nem sempre tenho companhia, sou uma viciadita que mateia solita...rsrsrsrsss...abraços

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